Invisibilidade.

Uma vez, em seu livro “Doidas e Santas”, Martha Medeiros contou uma história que aconteceu com ela. Ela estava na sala de embarque, esperando seu voo, sentada em uma cadeira e de repente, um homem (gordinho) veio em sua direção, e fez como quem ia se sentar na cadeira. Isso mesmo, na cadeira dela. Isso mesmo, em cima dela. Ele não a viu.

Você pode se perguntar “Como assim? Como ele não viu que ela estava naquela cadeira?” Ele simplesmente não viu. Assim como a gente também não vê quando o nosso vizinho (aquele chato) acena e nos dá “bom dia”. Assim como a gente não vê quando uma pessoa que trabalha/estuda no mesmo lugar que você passa por você, sem o uniforme. Assim como a gente não vê as coisas boas que aconteceram na nossa vida. Do mesmo jeito que a gente não vê isso, aquele homem não a viu.

Você irá dizer “Mas é uma pessoa, como não ver uma pessoa?” É né, pois é! É uma pessoa, como não vê-la? Essa pergunta tem que ser feita a você mesmo. Sabe aquela pessoa que era sua amiga e, dias atrás, sentou do seu lado no ônibus, e você não falou com ela porque não viu? Como você não a viu? Ela é uma pessoa! E aquele rapaz que entrega sua pizza, que falou com você no meio da rua e você não o viu? Ele é uma pessoa, como pode ter você não o visto?

“Ah não, é diferente.” Diferente porque? Existem duas pessoas na história, uma viu a outra, mas a outra não a viu. “Ah, mas é diferente, ele ia sentar em cima dela.” É, você não sentou em cima da pessoa, mas você não a viu. Do mesmo jeito do homem.

Só que existe um detalhe: você, supostamente, não viu. Você finge que não vê, que não conhece e que não lembra. Mentira minha? Não. Porque eu também faço isso, infelizmente. Só que o que acontece é que de tanto a gente “não ver”, de tanto “passar batido”, as coisas ficam verdadeiras. O “não te vi” passa a ser uma cegueira, e o “passar batido”, esquecimento. E as pessoas vão sendo deixadas para trás, sem a mínima atenção. Sem explicação.

Afinal, o cara da pizza não é tão conhecido assim, não é? Aquela sua antiga amiga, faz quanto tempo, quatro anos que não fala com você, então pra que reconhecê-la? Lembre-se que não existe só você, existem os outros.

“Moral da história: preste atenção. Mesmo onde você enxerga um vazio, pode ter gente dentro.” (Martha Medeiros)

Poucos? Bons!

Sempre fui solitária e sozinha. Me calei sobre coisas da minha vida durante muito tempo, deixei sentimentos serem esquecidos e sempre evitei conversas profundas sobre mim. Tranquei minha vida com um cadeado barato, daqueles que a chave enferruja depois de um tempo. Fiquei assim, só e calada, por muito tempo. E isso me fez ver algumas verdades doloridas.

Não tenho muitos amigos. Acho que posso contar nos dedos os que são realmente verdadeiros. Existem aqueles que você considera e eles não e tem os contrários, que te consideram e você, não. Na vida, houveram momentos em que eu não soube lidar com a situação e acabei por estragar tudo. Isso fez com que eu perdesse uns cinco ou seis amigos, e mais uns quatro de consideração. Se me dói falar disso? Dói, mas é a verdade. Com isso, eu tive que aprender que nem todo mundo é de ferro, e que eu precisava tratar melhor as pessoas. Cresci, mas foi pouco. Durante o meu crescimento, perdi mais uns três a quatro. Mas perdi, eu, não a vida que me tirou. Fiz coisas erradas e tudo foi consequência. Por errar tanto, acabei por me impor a lei dos poucos amigos. E sinceramente, é o que deveríamos fazer.

Não sou do tipo de pessoa popular, carismática e querida. Isso eu deixo para os meus amigos. Fico à sombra, detesto ser notada ou ser assunto da conversa. Não gosto de atenção, sou cinza. Não tenho inúmeros comentários nas minhas fotos nas redes sociais em que interajo e meu telefone passa um dois dias sem receber ligações que não seja da minha mãe, normal. Não recebo muitos convites para festas e também não acho que deva. Sei muito bem aonde eu sou bem-vinda.

Olhando para os amigos que perdi e vendo a vida deles hoje, penso que foi melhor assim. Não sou o melhor tipo de pessoa do mundo e bem, verdade seja dita, não sei fazer felicidade. Mas uma coisa é certa, quem está comigo me ama.

Com esse meio jeito turrão e rude de ser, você acaba por peneirar as pessoas ao seu redor. Existem as que chegam e vão embora porque não te aguentam, outras que vão porque você perde e tem as que ficam. Aquelas que estão dispostas a entender você e aguentar os seus comentários sarcásticos. Essas pessoas, elas tem seu espaço na minha vida.

Atualmente, eu tenho tido a oportundidade de começar a minha vida em todos os aspectos. No quesito amizade, não preciso comentar. Encontrei pessoas de todos os jeitos e cores que gostam de mim e me respeitam e não querem que eu mude (só quando eu erro, porque né). Essas pessoas não me deixam comentários, não me ligam todos os dias e não me fazem ser top top na balada. Mas elas foram pessoas que não quiseram saber do meu passado, que nunca me perguntaram o porquê de eu ter errado tanto. Essas pessoas me querem no presente e não no passado. Elas foram as únicas que se dispuseram a passar pelo ácido de bateria que existe ao meu redor, mesmo sabendo que isso seria mortal.

Depois de tudo isso, de todas essas provas, eu concluo: do que adianta ter celular tocando toda hora, se no momento em que você precisa, ninguém está lá?

P.S.: Quando você apenas mudar o tom de voz e alguém perceber, chame esse pra tomar um café. Ele pode ser o que se importa.

Happy Happening.

Em músicas, felicidade é um fim de tarde olhando o mar. Para alguns, felicidade é estar com quem se ama. Para outros, felicidade é bem estar. E para alguns outros, felicidade é uma bola de chiclete (metaforicamente, ou não.) A felicidade é algo que se sente, e se é sentimento, é sentido de formas diferentes. Se cada um tem seu jeito de se sentir feliz, eu também tenho a autoridade de ter esse sentimento para mim.

Felicidade para mim é também estar dentro de um carro, vidros abertos, cabelo voando com o balanço rústico do vento, numa BR ouvindo uma música que em estado são, você nunca ouviria. E é cantar essa música, sentir o vento, olhar a estrada com um sorriso grande no rosto. O sorriso de alguém que é feliz e não está nem aí para o que os outros vão dizer.

 

Ponto de vista.

Eu poderia dizer que tenho um avô idoso, que está com depressão profunda, câncer de prostáta, infecção urinária, sondado, que toma muitos e muitos remédios e que não sai mais da cama. Ao invés disso, eu digo que meu avô tem 92 anos, fala, ouve, enxerga e tem uma lucidez melhor que a minha. Digo que, mesmo sendo semi-analfabeto, teve onze filhos e os criou de forma exemplar. Me impressiono com o fato de que ele estava vivo na Primeira Guerra Mundial e viveu na época de Lampião. Dizia eu, até um tempo atrás, que ele não tomava nenhum remédio e tinha a força e a vivacidade de um adulto. E que apesar de tudo, eu nunca esquecerei do sorriso dele ao conversar comigo, ou quando ele me sentava em seu colo e me contava histórias. E eu nunca vou esquecer do dia em que, eu estava deitada na cama e mesmo com toda a sua debilitação, ele mexeu nos meus cabelos, como um sinal que ainda lembrava e me amava.

Eu poderia dizer que a minha avó é semi-analfabeta, que sofre, que não tem mais liberdade por causa do meu avô, que fala errado e que está ficando esquecida e que tem atitudes um tanto quanto atrevidas demais. Ao invés disso, eu olho para ela e vejo alguém que, mesmo com todas as restrições da personalidade rabugenta do meu avô, deu a volta por cima e mesmo não se tornando uma andarilha ou dona de boutique, nunca deixou a personalidade morrer. Mesmo sendo ingênua demais, é uma pessoa simples de coração e que gosta de fazer os outros se sentirem bem. Que foi (e sempre será) uma mulher pra frente, de mente aberta e que sabe usar as palavras como quem tem cartas na manga. E que criou onze filhos com poucos recursos e muito amor.

Eu poderia dizer que minha mãe é deficiente, teve um câncer, é estressada, solitária, mente fechada, ranzinza e orgulhosa. Mas ela é uma vencedora que batalhou até o fim para viver. Que enfrentou o medo que sempre fez com que ela não se arriscasse e voltou a viver. Alguém que viu o seu primeiro namorado morrer e mesmo assim não se deixou abater. Que viu pessoas em que ela sempre confiou darem as costas e traí-la quando ela mais precisou e mesmo assim, não se deixou cair. Que nunca serviu de degrau para ninguém subir e que nunca deixou que ninguém apagasse sua estrela. Que, todo mês, do pouco faz muito e que dá o seu melhor para que todos se sintam bem. Que faz sua personalidade ser lembrada e que deixa claro quem é que tá mandando ali. E que, mesmo viúva, criou sua filha de maneira exemplar e que ensinou para ela o que era certo, o que era errado e o que era possível.

Eu poderia dizer que meu pai era um beberrão, um irracional que deixou minha mãe na pior. Que fez dívidas, que não pensava antes de agir, agia pelo impulso. Só que, para mim, meu pai era o meu exemplo. Era o homem da minha vida. Os olhos verdes que iluminavam a minha manhã. O sorriso mais lindo de todos. O dono da moto que me fazia sentir liberta. Que fazia de tudo para me fazer sorrir e que não me educou batendo. O meu professor de matemática particular, que me ensinou o que eram bombons e chocolate (rs). Que mesmo errando, me deu exemplo. Que sabia lidar com qualquer situação, e que fazia com que todos gostassem dele. Era o mestre na arte da invenção e nunca ficava por baixo. Não se deixava humilhar, mas não humilhava ninguém. Sempre ajudou e sempre foi responsável pelo que cativou.

Eu poderia dizer tantas coisas, tantas. Na vida, todo mundo tem problemas. Todo mundo tem uma barra para enfrentar todos os dias. A vida não é justa, e nunca vai ser. Mas se ela é boa ou ruim, é tudo uma questão de ponto de vista.

P.S.: Te amo, pai.

Não, não sonhe.

O dia de hoje não merece um “viva!”. A dor de cabeça não está comigo, nem o tédio ou qualquer outra coisa. Mas ontem eu esqueci que o dia tem 24 horas e tudo pode acontecer.

Minha manhã foi linda, minha tarde mais ou menos, mas a minha noite foi horrível e eu pensei que nunca iria conseguir dormir. O dia de hoje é chamado presente, e é nosso dever aproveitá-lo. Mas, às vezes, o presente vem com defeito e você só descobre isso depois de ter brincado com ele várias vezes e a garantia já se acabou.

O que eu posso dizer aqui? Eu não sei. Porque palavras não fazem jus a sentimento nenhum.

Ontem eu olhei para trás e vi o meu passado. E não foi nada legal. Todo mundo diz que levar um “não” faz crescer. Mas e quando a vida SÓ te dá “não”, o que você faz? Foi mais ou menos o que aconteceu. De repente, todos os “não” que a vida me deu, apareceram na minha frente para zombar de mim, me mostrando que, de vencedora eu não tenho nada. Ontem, foi a minha gota d’água, que fez todo o meu copo derramar. Eu não consegui acreditar no que os meus olhos estavam vendo, e a minha mente lembrando. Mas era o passado, e ele, a gente não pode negar.

Me diga o que fazer, quando todos os seus sonhos vão para o ralo. Me diga o que fazer, quando a única palavra que a vida te dá é “não”. O que fazer quando você já não tem mais forças para sonhar, porque eles tem todas as chances de não se realizarem. Me diga alguma coisa que me dê forças para continuar.

Tantas, quantas oportunidades você teve na sua vida e não aproveitou, enquanto eu estou aqui, querendo que pelo menos uma porta se abra pra mim, mas parece que ela está emperrada.

Dizer “nunca pare de sonhar” é fácil. Mas, e se os seus sonhos não se realizam, como não parar?